Indicação do seminário “Formação e Emprego de Engenheiros no Brasil: Tendências Atuais” é de que não havia sinais de “apagão” quantitativo na engenharia; mas e a qualidade dos profissionais?

Em novembro de 2019, alguns meses antes do início da pandemia, o Laboratório de Gestão da Inovação da Escola Politécnica da USP publicou artigo informando que, num período de três anos, o número de engenheiros formados já superava em 2,5 vezes a demanda prevista na engenharia para o ano de 2020”.

Como conclusão, o texto afirmou que “não se sustentava”, portanto, a noção de “apagão de mão de obra” na engenharia; ou seja, uma relação desproporcional entre demanda de engenheiros pelo mercado e a oferta desses profissionais pelas universidades.

Quantidade X Qualidade

Em termos quantitativos, e num cenário pré-pandêmico, essa avaliação não deixa de ter sua razão. No entanto, com a pandemia e um olhar sobre a qualidade da formação dos profissionais, a noção de “apagão” surge no horizonte novamente, se considerarmos os seguintes dados:

  • 72% dos graduados em engenharia se formam no ensino privado (previsão em 2017).
  • Nas avaliações do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) os alunos de engenharia das instituições privadas alcançaram, em sua maioria, nota 2 e 3 (das universidades públicas, concentram-se entre 5 e 4).
  • Em 2020 e 2021, as taxas totais de evasão no ensino privado presencial foram de 35,9% e 40%, respectivamente.
  • Em 2020 e 2021, as taxas totais de evasão no ensino privado EAD foram de 33,7% e 43,3%, respectivamente.

Baixa qualidade e queda na quantidade 

Segundo o Diretor Pedagógico da Allevant Educação, Prof. Dr. João Sergio Cordeiro, esses dados, embora não conclusivos, sugerem não apenas uma baixa qualidade da maior parte dos engenheiros formados e que chegam ao mercado, mas também uma queda na quantidade de profissionais, dado o aumento considerável da evasão que o ensino privado, nos últimos dois anos, sofreu com a pandemia.

“Mas ainda que estejamos diante de um bom aluno, o mercado hoje é tão segmentado, tão especializado, tão complexo, que a formação genérica dada pelos cursos de graduação não basta para afirmarmos que um graduado está preparado para o mercado de trabalho: não está. O que ele aprendeu é, quando muito, o básico do básico. Como eu digo em minhas aulas, ele vai precisar aprender a desaprender para reaprender. E ajudar esses futuros engenheiro, ou esses jovens profissionais é um dos objetivos da Allevant Educação”.

João S. Cordeiro, que deu aula ao longo de 40 anos na UFSCar, ainda aponta dois outros aspectos: “Muitas empresas buscam fortalecer o conhecimento de seus quadros para que esses novos profissionais possam atender a demanda de projetos executivos, de operação, de manutenção e de gestão, pois várias lacunas existem na educação em engenharia. Também não podemos deixar de lembrar do provável despreparo de docentes que, em muitos casos, após sua graduação, caminham diretamente para mestrados e doutorados científicos, fundamentais, mas não buscam conhecimentos práticos e muito menos a evolução histórica de suas áreas de conhecimento, deixando de lado o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas avançadas disponíveis”.

Levando em conta todos esses aspectos, quantitativos e qualitativos, que em curto ou médio prazo vêm delineando a formação do engenheiro no país, parece prudente não descartar um possível cenário de “apagão”.

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