Dados mostram que se não houver uma mudança cultural na forma de encarar os resíduos que geramos e o lixo de uma maneira geral, os problemas irão se agravar cada vez mais.
Continuando nossa série sobre as Causas das Enchentes no Brasil, hoje falaremos sobre outro grande problema que proporciona fortes impactos nas épocas de chuvas: a destinação incorreta do lixo.
Só para relembrarmos as outras causas, já descrevemos sobre as chuvas intensas, nas quais altas temperaturas e diminuição da camada de Ozônio vêm contribuindo para suas ocorrências; excessiva impermeabilização do solo e algumas práticas para evitá-la; e agora, a destinação incorreta dos lixos.
A dimensão do problema
Em um artigo anterior, mostramos que a destinação correta dos resíduos, tanto recicláveis quanto orgânicos, é de extrema importância. Pois sem uma destinação correta, acabam por entupir as bocas dos bueiros, canais de drenagem e captação de água de chuva, agravando ainda mais os problemas.
Para você ter uma ideia, no Brasil, a quantidade de resíduos sólidos recolhidos (segundo dados do Sistema Nacional de Informações do Saneamento – SNIS) ultrapassa as 161,4 mil toneladas por dia. Isso causa um impacto muito grande em todos os sistemas de saneamento. Só na cidade de São Paulo, até outubro de 2019, a prefeitura recolheu 10 mil toneladas de resíduos dos bueiros e bocas de lobo. Importante: o triplo do ano anterior.
E não para por aí: em 1997, o oceanógrafo Charles Moore descobriu a chamada “Ilha de Lixo do Pacífico” (com extensão de mais de 3,5 milhões de km²!!!), um enorme lixão que flutua entre as costas da Califórnia e do Havaí, formado principalmente por inúmeros tipos de plásticos originados do descarte incorreto do lixo. A olho nu, ela não forma uma ilha geográfica como todos imaginam, mas isso não diminui suas desastrosas consequências ambientais. E essa “ilha” foi descoberta há 23 anos. Imagine como ela já está maior atualmente.
Muito trabalho e pouco resultado
Para minimizar os problemas causados pela destinação incorreta do lixo, empresas de limpeza urbana realizam operações especiais no verão (época com maior incidência de chuvas) para limpar e desobstruir as bocas de lobo, uma árdua tentativa de diminuir enchentes e alagamentos.
Na cidade de São Paulo, essa operação coleta informações por meio de sensores que controlam o nível dos resíduos em bueiros localizados nos pontos de alagamento. O sistema é inteligente e possibilita o monitoramento e a identificação da quantidade de lixo em cada bueiro. Com isso, os pontos reincidentes de alagamento são mapeados e a situação de cada boca de lobo antes e depois da limpeza é controlada diariamente.
Um dado alarmante é que, mesmo com todo o esforço de conscientização, durante uma das operações foram recolhidas mais de 2 mil toneladas de resíduos descartados incorretamente pela população. Logo, de nada adianta todo esse esforço e tecnologia se as pessoas continuarem descartando o lixo de maneira inadequada. No ano seguinte teremos os mesmos problemas, se não foram piores.
Formas simples de combater a destinação incorreta dos lixos
- Não jogue lixo nas ruas: mesmo que seja “só um plastiquinho” ou uma bituca de cigarro, em algum momento eles irão parar nas bocas de lobo, unir-se a outros resíduos e contribuir para o entupimento de galerias de drenagem.
- Conheça os horários da coleta de lixo do seu bairro: muitas vezes, sacos de lixo ficam por muito tempo nas ruas e acabam sendo arrebentados por animais ou outras pessoas. Quando chove, esses resíduos acabam sendo levados até os bueiros e, mais uma vez, contribuem para o entupimento dos mesmos.
- Contribua com a coleta seletiva da sua cidade: separe papéis, plásticos, metais, vidros e madeira para que cada um dos resíduos seja descartado de maneira correta. Caso sua cidade ou bairro não possua um sistema de coleta seletiva, é possível procurar as entidades responsáveis e ajudar na criação de um (clique aqui e saiba mais sobre os tipos de coleta).
Conclusão
Após os últimos artigos, pudemos perceber que 99% das enchentes são ocasionadas por interferência humana. E se não houver uma mudança cultural na forma de encarar os resíduos que geramos, os problemas irão se agravar cada vez mais.
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